quarta-feira, dezembro 31, 2014

Tudo Isto é Fado



Iniciou-se a 28 de Novembro do corrente ano de 2014, no semanário Sol - mais propriamente na sua revista/suplemento Tabu -, a publicação de uma obra em BD intitulada "Tudo Isto é Fado".

Nuno Saraiva aka N.S., é o autor desta banda desenhada de razoável extensão (treze semanas de publicação a quatro pranchas de cada vez), com o talento que se lhe reconhece na concretização gráfica, além de ser ele também o autor do guião, baseando-se em textos - que consubstanciam, afinal, o argumento - de vários renomados estudiosos do assunto, designadamente Pinto de Carvalho ("Tinop"), textos que lhe foram facultados pelo Museu do Fado.

O episódio inicial tem por título "A Maior Casa de Fados do Mundo", onde é transformado em imagens sequenciais "O Namoro da Rita", fado composto em 1957 por Artur Ribeiro, autor da letra, e António Mestre, compositor da música.
Trata-se de uma das primeiras gravações de Amália Rodrigues para a etiqueta Alvorada, da portuense Rádio Triunfo, Lda., conforme se lê numa legenda lateral.

A finalizar esse capítulo surge Mariza - outra bem conhecida e apreciada cantadeira de fados, muito bem caricaturizada por N.S. - a cantar "Ó Gente da Minha Terra", um fado com música de Tiago Machado, a partir de um poema de - imagine-se - Amália.

No capítulo seguinte, publicado na edição do Sol de 5 de Dezembro - uma 6ª feira, dia da saída do citado semanário lisboeta - surgem mais quatro coloridas páginas, com seis vinhetas cada, como em todas as páginas anteriores, em que se volta a ver Mariza, desta feita dando nome ao capítulo, a cantar "Barco Negro" - um fado inicialmente cantado por Amália, no filme "Les Amants du Tage".
Como escreve Nuno Saraiva em legenda lateral, apoiado em textos fidedignos, "é um poema de David Mourão Ferreira inspirado na melodia original de 'Mãe Negra', dos brasileiros Piratini e Caco Velho, censurada no Portugal de 1954."

A obra aos quadradinhos dedicada ao fado - curiosamente, neste caso pode falar-se de quadradinhos literalmente, visto que Nuno Saraiva divide sempre as pranchas em seis vinhetas rigorosamente quadradas - continua a tratar de fadistas de renome, sendo o terceiro capítulo dedicado a Carlos do Carmo, o qual, a dada altura, estando a bordo de um avião da TAP, adormece, é acordado por Bernardo Sassetti, e espanta-se em seguida com o aparecimento de Ary dos Santos, um improvável comissário de bordo.  

O quarto capítulo é dedicado a Amália Rodrigues, e o autor da bd começa por localizar as primeiras vinhetas em Abril de 1945, com a imagem de Berlim bombardeada, cita em seguida o Plano Marshall, e apresenta Amália a cantar na Alemanha, num cinema chamado Titania Palast, na noite de 1 de Outubro de 1950 - terminara há cinco anos a Guerra Mundial. 
O fado tinha por título "Só à Noitinha (Saudades de Ti)", letra de Amadeu do Vale e Raul Ferrão, música de Frederico Valério.

Quem goste de fado - agora Património Imaterial da Humanidade - tem assim a oportunidade de ampliar os seus conhecimentos sobre a matéria, através destas descrições pormenorizadas, excelentemente apresentadas por imagens sequenciais de elevada qualidade.
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NUNO SARAIVA  

Síntese biográfica

Nuno Jorge de Avelar Teixeira Saraiva, Lisboa, 27 de Agosto de 1969.
Adquiriu formação académica na FBAUL-Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e no IADE-Instituto de Artes Visuais Design e Marketing. 
É professor de Ilustração e BD no AR.CO - Centro de Arte e Comunicação Visual.
A sua vasta produção de banda desenhada está espalhada por fanzines (Banda, Comic Cala-Te, Hips!, Efeméride), revistas (Ego, Cosmopolitan) e jornais (O Fiel Inimigo, depois apenas Inimigo, neste sob o pseudónimo Ketch, Independente, Mundo Universitário).
Parte dessa produção está reunida em álbuns: Filosofia de Ponta, sob argumentos de Júlio Pinto, com três tomos editados; para o mesmo argumentista desenhou "Arnaldo o Pós-cataléptico" e "Guarda Abílio". A fazer duo com Paulo Patrício, este enquanto argumentista, desenhou a série "Escrita Fina", publicda no semanário Expresso entre 2004 e 2005.
A "solo" realizou "Os Dias de Bartolomeu", "Zé Inocêncio", "As Aventuras Extra Ordinárias de um Falo Barato".
Faz parte actualmente do colectivo TLS-The Lisbon Studio, onde tem colaborado no TLS Webmag.
É também importante a sua obra na ilustração, designadamente nos livros, de temáticas diversas, "A Crise Explicada às Crianças - Para Miúdos de Direita e Para Miúdos de Esquerda", sob texto de João Miguel Tavares, "Caríssimas 40 Canções - Sérgio Godinho", e "Isto É Um Assalto", com texto de Francisco Louçã e Mariana Mortágua.
Tem estado presente em diversas exposições de BD e Ilustração, individuais e colectivas.
Em 2006 criou imagens para dezasseis receitas de culinária, usando imagens de carácter erótico com os rostos de actores e actrizes do cinema internacional.
Em 2010 foi galardoado com o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa, criado por El Corte Inglés e Casa da Imprensa, por uma ilustração sua para a capa do suplemento Ípsilon do jornal Público
Foi o representante de Portugal no 11º Festival Internacional de Banda Desenhada e Animação - Luanda Cartoon, em Agosto de 2014.
Iniciou em Novembro do mesmo ano a obra em BD "Tudo Isto é Fado", em publicação no semanário Sol - revista/suplemento Tabu - ao ritmo de quatro pranchas por semana, a cores, sendo ele também o argumentista/guionista, sob elementos que lhe são fornecidos pelo Museu do Fado, responsável pela co-produção.

quarta-feira, dezembro 24, 2014

Coleccionadores e Colecções de BD (XIII) - José Alberto Varandas




























Após longo interregno, volto à tarefa de reproduzir as entrevistas que fiz na década de 1980 a vários coleccionadores de BD, para uma revista intitulada Coleccionando que se editava em Lisboa.

Apesar de terem passado quase trinta anos, creio que os textos destas entrevistas interessarão os veteranos apreciadores de banda desenhada, os quais reconhecerão as revistas citadas pelo coleccionador entrevistado, José Alberto Varandas, e saberão fazer a equivalência ao euro dos preços mencionados em escudos, bem como ter em consideração a época em que ele adquiriu as valiosas colecções. 

Na reprodução das capas de algumas das revistas citadas por José Alberto Varandas, optei por mostrar capas (ou primeiras páginas) que se coadunassem com a época natalícia que atravessamos. Aproveitei o facto de ter numerosos exemplares repetidos e não encadernados para poder reproduzi-los.

Transcrevo seguidamente o texto introdutório e as perguntas e respostas constantes da entrevista, a fim de facilitar a leitura.

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Com o «Cavaleiro Andante» 
'vivi' grandes aventuras 
- afirma José Alberto Varandas


Nascido em Lisboa a 1 de Março de 1952, Maquinista Técnico dos Caminhos de Ferro Portugueses, José Alberto Varandas é um entusiástico coleccionador de Banda Desenhada; é também grande apaixonado pelo Desenho e Pintura.
Em relação ao Desenho (quer de BD, quer de Ilustração), apenas conseguiu publicar coisa pouca até hoje - duas páginas de BD no fanzine do CPBD, o "Boletim" (nº41, Jan./Fev. 83), e uma capa para o nº50 (Maio/Jun.84) da mesma publicação. Isto numa altura em que, conforme ele próprio afirma, já mal se lembrava como pegar num lápis...
No que sempre tem mantido grande empenho é na recolha de tudo o que foi publicado em Portugal, no campo das revistas infanto-juvenis.

Vamos portanto registar as respostas e opiniões deste coleccionador.

- Varandas: em que altura da sua vida começou a coleccionar revistas de BD?

- Comecei quando tinha seis anos. Na altura o meu pai deu-me alguns exemplares do João Ratão, e o nº 554 do Mundo de Aventuras, que guardei durante muitos anos, assim como muitas outras que lhe eram paralelas.
Infelizmente desfiz-me de todas, só voltando a adquiri-las novamente a partir dos anos setenta.

- Por que é que se desfez dessas colecções de que, naturalmente, gostava bastante?

- Geralmente todos os jovens o fazem, a fim de conseguir dinheiro para outros objectivos!

- Das revistas que coleccionava nessa fase, qual a que tem maior significado para si?

- Com oito anos consegui comprar regularmente o Cavaleiro Andante, e foi esta a revista que maior significado teve na minha vida de jovem coleccionador.
Nela li e "vivi" grandes aventuras.
Para exemplo: lembra-se da "Peregrinação", desenhada por José Ruy? Ainda hoje recordo o episódio da espingarda e do Príncipe Japonês, ou das belas páginas de "Através do Deserto", de José Garcês.

- O que é que o impressionou assim tanto nessa tal cena da "Peregrinação"?

- A expectativa de ver aquilo que ia acontecer, resultante do contacto do jovem com a arma. Como sabe, esse episódio é histórico, e mostra a introdução da espingarda no Japão.

- Isso quer dizer que, através da Banda Desenhada, o jovem que você era então, aprendeu alguma coisa da nossa História...

- Disso não tenho dúvidas. Mas o mais positivo foi o prazer da aventura pura e simples, aquela aventura que se gostaria de viver, mesmo que fosse só em imaginação.

- Voltando ao coleccionismo: quais as colecções portuguesas que tem completas, ou, pelo menos, com significativo número de exemplares?

- Tenho neste momento várias colecções completas. Desde o Jornal da Infância (1883), passando pelo Gafanhoto (a primeira com este título, de 1903) e por outras também bastante importantes: Mundo de Aventuras, Cavaleiro Andante (e álbuns respectivos), Zorro, Falcão, Pardal, Flecha, Pisca-Pisca, Titã, Antologia dos Romances Célebres.
Tenho mais, mas com algumas faltas, como é o caso do Faísca, Alvo, Pirilau, Condor Mensal, Camarada, Lusitas e Fagulha, para só falar das mais importantes.

- Então diga lá algumas que considere menos importantes, e que tenha completas.

- Repare que eu, ao falar de revistas importantes, estou-me a referir à raridade e não ao conteúdo.
Por exemplo, tenho o Jornal do Cuto que, no que se refere à qualidade, conseguiu reeditar muita da boa Banda Desenhada Clássica. Foi uma boa revista.
Outra que posso mencionar é o Jornal da BD, a mais recente publicação do género.

- Entre as que considera importantes não menciona o Diabrete
Não tem nada desta revista?

- Olhe, ainda esta semana comprei setecentos números, que vendi em seguida.

- Mas porquê? Se comprou, é porque a colecção lhe interessava...

- Realmente interessava-me muito, mas fiquei de tal maneira desiludido, que me desfiz dela logo.
Aliás, o que já me acontece pela segunda vez.

- Mas explique-me lá o motivo de ter ficado tão desiludido. Desagradou-lhe o conteúdo da revista? Estava à espera de outra coisa?

- Não. Aliás o Diabrete tem excelentes coisas publicadas, quanto mais não fosse só pelos trabalhos de Fernando Bento e Vítor Péon, por exemplo.
O problema foi que eu estava convencido que tinha comprado 822 números, e afinal eram só 696!

- E que tal era o estado das revistas?

- Muito bom.

- Posso perguntar-lhe por quanto é que tinha comprado esse, apesar de incompleto, belo lote?

- Foi a 30$00 cada revista, ou seja, 24 mil escudos.

- Então quer dizer que foi enganado... Fazendo as contas à quantidade que comprou e ao preço por exemplar, o lote não custaria tanto.
E diga lá por quanto é que vendeu, já agora.

- Você sabe que eu muitas vezes faço pequenos negócios, sempre com o objectivo de melhorar as minhas colecções.

- Estou a entender... Mudemos de assunto, então. 
Entre as colecções que possui, mesmo incompletas, qual a que considera mais valiosa quanto à raridade e conteúdo?

- Bem, a colecção que considero mais valiosa, e que tenho completa, é sem dúvida O Mosquito. É muito difícil conseguir esta revista na totalidade dos 1412 números. Também quanto ao conteúdo estão nela as mais belas páginas que se desenharam em Portugal.

- Qual a revista de BD mais antiga que possui?

- É o Jornal da Infância, de 1883. Mas todos os dias podem surgir verdadeiras raridades. 
Por exemplo: A Arca de Noé, jornal infantil da União Zoófila, datada de 1953, de que tenho alguns exemplares, é uma raridade. Eu, pelo menos, assim o considero, pois não conheço ninguém que os tenha.

- Quantos exemplares é que tem, afinal?

- Só tenho quatro, dois números um, e dois números dois, mas que têm datas e formatos diferentes.
Suponho que deve ter havido duas tentativas de lnçar a revista que, aliás, era de distribuição gratuita pelas Escolas.

- Entre as suas colecções, qual a que lhe deu, ou está a dar, mais dificuldade em completar?

- Tive grande dificuldade em completar a colecção do Pardal, revista que saiu em 1961, e que só tem vinte números! Durante sete anos tentei, e não consegui, completá-la.
Por sorte, acabei por adquirir, posteriormente, uma colecção completa.

- Está neste momento a coleccionar alguma revista de BD?

- Continuo a tentar completar as colecções com faltas. Mas, claro, quando sai uma nova revista portuguesa, estou pronto a coleccioná-la.

- Qual a que coleccionou, acompanhando-a no momento da publicação?

- Acompanhei a publicação do Cavaleiro Andante, Mundo de Aventuras e Zorro.

- Tem alguma recordação especial ligada a qualquer das revistas que possui?

- Tenho várias recordações, algumas bem especiais, ligadas à minha vida de coleccionador.
Por exemplo: quando me faltavam apenas cinco números de O Mosquito (1ª Série), um grande coleccionador da nossa praça teve a gentileza de mos oferecer. O nome dispensa comentários: Bana e Costa.

- Terá havido na sua infância ou adolescência (até pode ter sido recentemente), uma fase em que, num certo dia da semana, ia à rua de propósito para comprar uma revista.
Ocorre-lhe qualquer recordação ligada a essa fase?

- Quando se publicava o Cavaleiro Andante, ia de propósito comprá-lo a um jornaleiro que vendia à esquina da Rua da Bica do Sapato com a Rua Diogo Couto, perto do Chafariz, junto ao muro do Lavadouro Público.
Já desapareceram o jornaleiro, o chafariz e o lavadouro público.

- Onde é que ficava isso?

- Perto de Santa Apolónia.

- Qual o preço mais elevado que pagou por uma peça portuguesa, ou de outra qualquer nacionalidade?

- Paguei muito recentemente pelo nº 357 do Senhor Doutor o valor de seis vezes o preço de um bilhete de cinema.
É preciso ver que só me faltava este número na minha colecção!
O alfarrabista Martinho tinha-o num lote de 350 números, e só ao fim de várias semanas o consegui obter. E mesmo assim, com a ajuda do nosso Grande Amigo A. J. Ferreira, que fez a sua força para convencer o homem.

- Colecciona álbuns de BD?

- Colecciono quase todos os álbuns que vão sendo publicados.
Os mais antigos que tenho são os que foram publicados por O Mosquito, Camarada, os da Editora Íbis, etc.

- Segue algum critério nessas colecções?

- Dou especial atenção às personagens, deixando para segundo plano os autores.

- E quais são as personagens?

- Há várias. "Blueberry", "Corto Maltese", de que gosto muito. Mas tenho preferência especial pelos clássicos: "Flash Gordon", "Tarzan", "Cisco Kid" e outros.

- Colecciona mais alguma coisa?

- Colecciono várias outras coisas. 
Por exemplo: cadernetas de cromos, de que tenho vários exemplares desde os anos trinta até aos nossos dias, algumas de rara beleza e que são verdadeiras bandas desenhadas.
Colecciono também brinquedos antigos, de folha, e de preferência mecânicos. 
E outras pequenas coisas, tais como soldados de recortar e construções, livros infantis ilustrados, selos, moedas, emblemas e postais.

- Quais são essas colecções de cromos que considera autênticas bandas desenhadas?

- Principalmente as feitas por Carlos Alberto: a História de Portugal, a História de Lisboa e aquelas sobre personagens históricas.

- Conte um episódio pitoresco na sua actividade de coleccionador de BD.

- Tenho muitos episódios pitorescos ligados às colecções de BD.
Uma vez o Carlos Gonçalves deu-se ao trabalho de publicar na página de BD do Correio da Manhã a minha lista de faltas de O Mosquito, onde eu tinha desenhado os "mosquitos" que me faltavam com os respectivos números na camisola.

- Tem alguma recordação triste relacionada com as suas colecções?

- Posso dizer que fiquei muito triste quando dispensei a colecção do Grilo ao Raul Ribeiro, embora eu tenha nessa altura posto a espada no prato da balança.

- E alguma muito agradável?

- Olhe, quando encontrei o emblema de O Mosquito. Foi um momento muito especial para mim. Devo ser o único coleccionador de BD que tem este emblema.

- Qual o destino que prevê, ou que desejaria, para as suas colecções?

- Só o futuro poderá dizer alguma coisa, mas o meu grande sonho seria fundar um pequeno museu onde figurassem todas as minhas colecções, e que estão de uma maneira geral ligadas à infância.

- O que acharia ideal para que fossem preservadas as colecções que existem em poder de particulares?

- A maior parte das nossas bibliotecas não têm estudo e consulta de colecções que têm sido publicadas em Portugal. Fico na dúvida se estaria certo recolhê-las em bibliotecas... Neste momento, estando nas mãos de coleccionadores ciosos, estão preservadas.

- Qual a influência para a BD resultante da existência de coleccionadores?

- Os coleccionadores são consumidores exigentes po excelência.
Deveriam pelo menos influenciar a consciência dos produtores de Banda Desenhada e fazê-la cada vez mais cuidada, para uso e abuso dos mesmos.

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Imagens que ilustram esta postagem, de cima para baixo:

1. Jornal do Cuto (Nº 172 - 1 Dezembro 1977 - Lisboa) - Capa (não assinada) ilustrada por Carlos Alberto

2. O Pirilau (nº4 - Dezembro 1963 - Lisboa) - Capa de F. Ramos

3. Titã (Nº 11 - 21 Dezembro 1954 - Lisboa) - Capa com ilustração assinada por Hal Foster

4. Cavaleiro Andante (Número Especial de Natal de 1953 - Lisboa) - Capa com ilustração de Fernando Bento

5. O Mosquito (Nº 1200 - 23 Dezembro 1950 -Lisboa) - Capa (não assinada) com ilustração de Eduardo Teixeira Coelho

6. O Gafanhoto (Nº 3 - 25 Dezembro 1948 - Lisboa) - Capa (não assinada) talvez montagem de Tiotónio

7. Camarada (Nº 27 - 25 Dezembro 1948) - Capa com ilustração assinada por Júlio Gil

8. Diabrete (Nºs 363-364* Natal de 1946 - Lisboa) - Capa com ilustração de Fernando Bento
*Uma curiosidade: este número é considerado duplo

9. Pluto (Nº 5 - 25 Dezembro 1945 - Lisboa) - Capa (não assinada) com ilustração de Vítor Péon

10. O Papagaio (Nº 454 - 23 Dezembro 1943) - Capa de Rudy

11. Faísca (Nº 42 - 25 Dezembro 1942 - Lisboa) - Capa (não assinada) provavelmente de António Barata

12. ABCzinho (Nº 5 - Dezembro 1921) - Capa (não assinada), provavelmente de Cottinelli Telmo 

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Os visitantes interessados em ver os doze artigos anteriores poderão fazê-lo, clicando no item Coleccionadores e Colecções de BD visível no rodapé   

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Festivais BD - Comic Con Portugal 2014 - Inquérito a Autores, Editores, Livreiros e Bloguistas (IV) - André Azevedo




Termina aqui, com as respostas do bloguista e especialista de BD André Azevedo, a série de mini-entrevistas tipo inquérito, relacionadas com a Comic Con Portugal (1ª edição, 5 a 7 de Dezembro de 2014) feitas a autores, editores, livreiros e bloguistas, todos da área da BD. 

É unânime a noção de que a empresa City Conventions in the Yard, representada por Paulo Rocha Cardoso, conseguiu criar um evento de grande dimensão com semelhanças aos que se realizam nos Estados Unidos da América - de que são exemplos maiores as Comic Con de San Diego e Nova Iorque.

Seguem-se as perguntas e respostas:  

G.Lino André Azevedo: Como bloguista de BD, esteve presente na estreia do evento Comic Con Portugal. 
Gostaria que fizesse a comparação entre este tipo de eventos, com características americanas, e os portugueses (Amadora e Beja - Festivais; Moura e Viseu - Salões; Porto - Central Comics Fest) e europeus - Angoulême ou outro que conheça.


André Azevedo - O modelo americano, as denominadas "Comic Con", são claramente direccionadas para o comércio, para a venda de "produtos" relacionados com a cultura pop, onde se inclui, muito redutoramente, a Banda Desenhada, que contudo beneficia aqui de todo o aparato festivo destes eventos, podendo assim chegar a outros públicos receptivos a conhecer obras de figuração narrativa por estas já terem sido adaptadas ao cinema, à televisão ou terem a sua iconografia em artigos de "merchandising". Aqui a figura principal é o Consumidor.

Uma nota: as comic conventions já existem nos EUA desde pelo menos 1970 (Golden State Comic Book Convention, a antecessora da San Diego Comic-Com), e por cá já temos este modelo,ou similares, mas em menor escala (Anicomjcs, Central Comics Fest).

Os Festivais de BD são mais direccionados para a arte em si, onde, não descurando o lado comercial, promovem-se diversas exposições de pranchas originais, encontros com autores e editores nacionais e estrangeiros, edição de catálogos e outras publicações e actividades mais centradas na banda desenhada, podendo captar públicos não só da área mas também com interesse por outras artes, como por exemplo através de concertos de música e/ou projecção de filmes. Aqui, naturalmente, o Autor é a figura principal.

Os Salões de BD são eventos semelhantes aos Festivais mas de dimensões mais reduzidas e por vezes com escassos meios de trabalho e níveis de produção, mas importantes na manutenção de núcleos locais com interesse pela BD e que a divulga de forma militante. Aqui continua a ser o Autor a figura principal. 

De igual importância são as Feiras, onde edições mais "alternativas" (à falta de melhor termo) se encontram à venda, muitas vezes pelos próprios autores, criando uma maior proximidade com o público, eles próprios quase sempre também autores. 
Em ambientes underground festivos, onde a música nunca falta, a intersecção com as outras artes, sejam elas gráficas ou sonoras, estão sempre presentes, gerando um ambiente estimulante à criação DIY. 

Aqui o Evento em si é a figura principal, pois autores, editores, divulgadores e público, participam dele de forma mais orgânica. 

Apesar, ou mesmo, por causa destas diferenças, todos estes modelos são importantes para a difusão de cultura, a da BD em particular.   


G.L. - Pensa que este evento multidisciplinar - onde coexistem banda desenhada, cosplay, videojogos, cinema, televisão, espaços comerciais com BD e diversos tipos de "merchandising" - fazia falta em Portugal?
 

André Azevedo - Com esta dimensão fazia, principalmente aos editores e livreiros. São eventos que apostam claramente no comércio, na venda de produtos, onde se inclui, obviamente e sem romantismos, os livros de BD.

G.L. - Surpreendeu-o o facto de ter havido uma autêntica avalanche de público - cerca de 30.000 visitantes -, apesar de a Exponor se localizar em Matosinhos, a razoável distância do Porto, e as entradas terem um preço algo elevado?

André Azevedo - Já tinha ficado surpreendido quando a organização anunciou a pré-venda de milhares de bilhetes, mas conseguirem cerca de 30.000 visitantes é sem dúvida um sinal que este tipo de eventos onde são convidados actores de séries com muitos seguidores tem público interessado, apesar do preço elevado dos bilhetes. 

Quanto à localização, a Exponor, que fica a uns meros 15 minutos de carro do centro do Porto (20 de autocarro), é para mim um dos locais ideais para a Comic Con Portugal.
    
G.L. - Como bloguista (ou "blogger") de BD, acha que teve vantagem em estar presente?

André Azevedo - Claro, sem dúvida! Apesar de não ser o meu modelo favorito de “festival” não poderia faltar a esta primeira edição da Comic Con, isto para além de ter tido a oportunidade de contactar com alguns autores e divulgadores que ainda não conhecia pessoalmente e adquirir algumas edições fundamentais para a minha bedeteca.     

G.L. - É de opinião que a área destinada aos autores de BD era suficiente? E considera-a bem localizada?

André Azevedo - Se a tendência é para crescer e naturalmente aumentar o número de autores no Artist’s Alley, então o espaço a eles destinado não é suficiente e deverá estar futuramente mais integrado com a área comercial. Este deverá ser um dos pontos a rever pela organização.          

G.L. - No seu ponto de vista, a exposição de BD era suficiente, em termos de imagens expostas? Que aspectos considera terem sido menos bem conseguidos?
 

André Azevedo - Já não é admissível nos dias de hoje expor umas meras impressões de pranchas.
De modo geral, ou se expõem originais ou então não lhe chamem exposição. No entanto, se fosse algo digno desse nome, o número de pranchas teria sido muito insuficiente, mas também não acho que seja algo que se integre bem numa Comic Con. 


G.L. - O que achou de mais interessante no evento? 

André Azevedo - O mais interessante foi mesmo a interacção que se gerou entre os diferentes tipos de público / editores / autores.

G.L. - E que aspectos considera terem sido menos bem conseguidos?

André Azevedo - O menos conseguido, para além da área destinada às crianças ser pouco apelativa, foi mesmo a demora da entrada do público no recinto devido ao sistema de controlo utilizado, sendo este um dos pontos principais a melhorar e que a organização deverá ter bem em mente nas próximas edições.
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AZEVEDO, André

Síntese autobiográfica


Mário André Fonseca Azevedo (Porto, 1974)

Licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, publicou nesses anos académicos diversos fanzines sobre arte: O Medo, Desvio 265 e Hotel, onde se incluiu banda-desenhada.


Através do seu Tio Neca, que gostava de bd’s de guerra (foi Comando no Ultramar, voltou, mas nunca de lá saiu), de cerveja e do Benfica (não necessariamente por esta ordem), ganhou o gosto também por cerveja e por ler o Falcão, Guerra, Condor e muitas outras pequenas publicações que abundavam nos quiosques nos anos 80.


É do FCP.


Iniciou em 2012 o blogue “BD no Sótão” (já terminado) e em 2014 o blogue “A Garagem” por absoluta necessidade em partilhar, falar e divulgar Banda Desenhada. 

Publicou a sua primeira BD, e única até ao momento, no fanzine Tertúlia BDzine nº 177, editado por Geraldes Lino em 2013.
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Imagens que ilustram o presente "post":
1. Banner do blogue BD no Sótão, o primeiro de André Oliveira
2. Banner do actual blogue do mesmo bloguista 
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